Que pergunta mais antiga, não? Mais desatualizada, mais alienada, mais de séculos passados, mais sem cabimento, mais inútil. Afinal de contas, criança tem de ser feliz, tem de aproveitar a vida, tem de extravasar energias, tem de descobrir o mundo. E muito da felicidade, da vida e do mundo ela só encontra à noite, fora de casa, pelas ruas, sabe-se lá com quem, onde, ao som de que música, ao sabor de qual estimulante…
Mas, felizmente, como todos sabem, vivemos num mundo seguro, moral, respeitoso, em que as crianças são apenas crianças, em que todos (a começar pelos pais), respeitam-nas, tratam-nas com toda a consideração que merecem, empenham-se ao máximo para resguardá-las de perigo (mas… que perigo? Não moramos em um mundo perfeito?); em que todas as pessoas que se relacionam com crianças são de absoluta confiança, de profundos valores morais, de inatacável comportamento. O lindo mundo em que vivemos é povoado de pais que conseguem proteger seus filhos 24 horas por dia, sete dias por semana e que nunca, jamais, em hipótese alguma, terceirizam sua responsabilidade; antes a desempenham com o máximo de suas forças. E, como lindo resultado disso, não temos nenhum problema de crianças e adolescentes embriagados, fumando, viciados em drogas, mortos em festinhas de adultos, desaparecidos, com casos de gravidez, por vezes resultado de estupro. “Oh, what wonderful world…”!
Espero que você já tenha acordado para a mais dura realidade: nossas crianças e adolescentes correm risco o tempo todo. E correm, de modo especial, por causa da negligência (ou limitações) dos pais, que os deixam a sós, que não lhes conseguem impor limites, que são menos hábeis que eles com informática e internet, que não se preocupam muito com quem andam, que têm medo de sua cara feia, de sua rebelião, que têm medo de serem antiquados como seus próprios pais foram, que se convencem (ou foram convencidos) de que, se forem muito firmes com os filhos, estes se tornarão adultos frustrados, sem autoestima, sem personalidade. E tantas outras bobagens e desculpas e falácias e balelas que parecem ignorar um fato mais do que evidente: crianças e adolescentes correm cada vez mais riscos e os pais sabem cada vez menos o que fazer – ou nem mesmo se importam muito com isso.



Não sou especialista em leis nem sociólogo ou assistente social. Sou pai de três filhos que vivo há tempo suficiente nesse mundo nada wonderful pra saber que alguma coisa precisa ser feita. No mínimo para manter crianças e adolescentes a salvo, protegidos, enquanto alguém vai acordando os pais e a sociedade em geral. Vi coisas horrorosas demais na internet e no mundo do lado de cá do monitor para ficar tranquilo com discursos vazios, com elucubrações acadêmicas, com conversa mole sobre esses seres mais frágeis. Tenho usado meu blog, De Tudo um Pouco, para alertar os visitantes sobre o perigo real e próximo dos predadores de crianças. Tenho procurado alertar conhecidos, amigos e quem estiver ao alcance da boca no trombone sobre a necessidade de fazermos tudo e todos o que estiver ao nosso alcance para resguardar crianças e adolescentes.
Vivemos num mundo real… e mau. Felizmente, encontramos nele gente que se importa com o filho dos outros, gente que faz até mesmo em lugar de outros. É o caso do dr. Evandro Pelarin, Juiz de Direito da 1.ª Vara Criminal e da Infância e da Juventude de Fernandópolis, SP. Ele criou o “Toque de Recolher ou Acolher”. Ou seja, ele disse o que todo mundo sempre soube, mas tem tido preguiça de fazer valer: há hora pra criança estar na rua e há hora em que ela deve estar protegida, no lar, em um abrigo. E a medida produziu um efeito maravilhoso: mais de 80% de diminuição na criminalidade! Quem não aplaudiria isso? Quem não se alegraria com o fato de alguma coisa estar sendo feita em prol das crianças e dos adolescentes?

Como não estamos num mundo perfeito e lindo, há gente, sim, reclamando do que o Evandro fez. Não sei se esses que reclamam já fizeram algo tão efetivo e eficiente por aqueles a quem dizem representar, não sei se alguma medida que tomaram produziu tamanho redução de crimes (o que significa diminuir o número de crianças tanto vítimas quanto criminosas). Sei que o que o dr. Evandro fez, com o apoio da população, tem dado resultado, tem resgatado nossa esperança de ter um mundo, quem sabe um pouquinho só, mais wonderful. Pelo menos em Fernandópolis. Tomara que essa ideia seja espalhada pelo Brasil. No que precisar, conte conosco, Evandro, para divulgar sua iniciativa.



Deus o abençoe e lhe dê força para perseverar.



Francisco Nunes



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