“Me colocaram um apelido de camelo na escola e depois disso não me deu mais vontade de estudar”. Esta é uma das reclamações que o juiz José Brandão escutou de um dos alunos em evasão escolar, o magistrado teve conhecimento de que o bwllyng estava sendo causador da infrequencia de muitos alunos em sala de aula quando decidiu realizar audiências coletivas com pais e alunos evadidos.
Vários foram os casos de bwllyng que o juiz Brandão teve conhecimento durante as audiências.



Vários casos de bwllyng foram levados ao conhecimento do juiz

Um outro caso que chamou atenção, não só do magistrado, como também dos presentes foi um menor de 16 anos que alegou que não estava mais indo para escola porque a professora já tinha o chamado de marginal por mais de três vezes.
Muitos pais consideram o fato de colocar apelido no filho como besteira, motivo fútil. “Meu filho não deve dá importância, as vezes eu penso que é mais preguiça de ir estudar, pois os meninos de hoje ao querem mais nada com a voz do Brasil”, comentou Márcia Santana, acrescentando que, “eu acho que se eu e o pai tivesse dado umas surras nele quando era mais novo ele não estava assim hoje, essa história de apelido é preguiça de estudar”, completou.

Causas e consequências do bwllyng

Para entender as conseqüências causadas pelo bwllyng, a nossa reportagem procurou o psicólogo Ary Nepote que destacou o papel da família para combater a problemática que tem tomado conta das escolas. Segundo o psicólogo, todo tipo de desgaste de imagem que acontece fora da casa, que é onde o menor, o adolescente tem o sustentáculo emocional enfraquece o individuo diante dos fatos da vida.
Questionado pela nossa reportagem se o bwllyng também pode ser combatido na escola, Ary Nepote explica que a escola é uma instituição que pode mediar comportamento desde que ele esteja adequado aos valores familiares. “A criança não vive na escola, a escola é um acontecimento na vida da criança de fundo secundário, ela sai dali e leva conhecimento para o destino que for seguir”, argumentou.


      “Se a família for capaz de mediar a fragilidade da criança com uma estrutura de aconchego e acolhimento, nesses momentos em que a mesma se sente enfraquecida, o fato, ou seja o apelido passará a ser para o menor  algo pertinente a vida e não um  componente de destruição da mesma”, explicou Nepote.
Ainda de acordo Ary Nepote, a família é importante em todos os aspectos da vida da criança. “no processo do resgate da credibilidade e da auto-estima, quando a criança vem desfalecida em função de um tecido social rompido, através de um apelido inadequado a sua auto-percepção, este por exemplo é um dos momentos fundamentais onde a família tem que está presente”, salientou.

Para o psicólogo,  quando a criança ou o adolescente não tem atenção da família para os apelidos que recebem na rua ou na escola, vários problemas poderão ser causados. “Em determinados casos, assim como o bwllyng, se a família silenciar, o apelido inadequado que provocou uma ruptura do sentido social na confiança da proposta de relacionamento com os demais poderá enfraquecer a auto-percepção e consequentemente o processo da auto-estima se tornar inadequado, e sendo assim, a criança passará a ter dificuldade de relacionamento, passa a ter medo de contatos e a evitar situações que são desconhecidas, isso poderá limitar o seu horizonte psicológico, que poderá também provocar problemas de saúde”, destacou.
Especialista em família, Ary Nepote acredita que a descoberta dos motivos que provocam a evasão escolar através das audiências públicas realizadas pelo juiz José Brandão foi algo fundamental para motivar as famílias a assumirem seu papel, ele ainda salienta que para todos os problemas envolvendo menores na rua com o amigo ou na escola, a família é  considerada como o processo fundamental terapêutico de um menor quando chega com seu sentido social rompido.
 

 Clécia Rocha
Assessoria da Vara da Infância e Juventude

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