30/04/2011 às 19:09
Danile Rebouças l A TARDE
Marco Aurélio Martins/Agência A TARDE
Quadro da reunião aberta do grupo NA do Stiep, na última quinta, resume orientações para os membros
Quadro da reunião aberta do grupo NA do Stiep, na última quinta, resume orientações para os membros
Com 12 anos de idade, Marcelo*, hoje com 32, começou a usar drogas. Seus pais haviam acabado de se separar. Ele roubou, manipulou armas de fogo, foi preso por quatro vezes. Interrompeu os estudos na 5ª série e, aos 17 anos, com a chegada da maioridade, resolveu pedir socorro. Pediu ajuda, passou por três internações. Às vezes pensava que conseguia controlar o uso, mas as recaídas lhe mostravam que era ilusão.
Esta realidade mudou há oito anos e dez meses, quando ele entrou para a irmandade Narcóticos Anônimos (NA). Marcelo incorporou o lema do grupo – parar de se drogar “só por hoje” – e conseguiu suspender totalmente o uso. “Retomei os estudos, estou casado e trabalhando. Aprendi a me valorizar e fui me autoconhecendo. Sei que o NA não é a única solução, mas funcionou para mim. Tem gente que consegue usar droga de modo controlado. Eu não. Vi que para mim não adianta redução de danos”, reconhece.
O NA é um grupo de ajuda mútua, que atua no mundo inteiro e está desde a década de 80 no Brasil. Voltado para quem tem problemas com drogas, o NA não é vinculado a religião ou grupos políticos. Não cobra taxas e para ser membro tem como requisito único a vontade de parar de usar drogas. A base do trabalho é o programa 12 passos – criado nos EUA e usado por grupos de autoajuda para o tratamento de dependências químicas ou compulsões.
Vivência - “Não estamos aqui para vigiar, nem dizer o que se deve fazer. Mostramos o que é o ideal para que cada um reformule sua vida”, explica o coordenador do grupo Ricardo*, que deixou a cocaína de lado há oito anos, após vício de mais de dez anos. O NA surge na lista de grupos, clínicas e instituições que atuam na tentativa de minimizar danos provocados pelas drogas no ser humano.
O alto consumo na Bahia pode ser percebido nos dados  da Coordenação de Documentação e Estatística Policial da Secretaria de Segurança Pública. Em 2010, cerca de 2.909 quilos de drogas, somando apreensões de crack, maconha e cocaína, além de 54.338 pés de maconha foram apreendidos no estado. Em 2009 esse valor chegou a 5.027 quilos de drogas, com 131.712 pés de maconha.
Encontros - Na Bahia, o NA está presente em ao menos 14 cidades. Em Salvador há cerca de 20 pontos de encontros. Conforme Ricardo, há uma média de 500 pessoas frequentando. Vitória*, 35, que ingressou no grupo após oito anos de relação intensa com as drogas, é uma delas.
“Tomei consciência do que estava fazendo quando um vizinho ligou e disse que minha filha estava tendo convulsão e meu apartamento pegava fogo. Tinha saído para me drogar e deixei os dois filhos sós em casa”. Vitória foi internada em clínica para tratamento por 80 dias e ingressou no NA há dois anos e três meses. “Hoje a minha felicidade é ouvir meu filho (13 anos) dizer que me ama. Antes, ele dizia ‘eu te odeio!’ ”, conta.
O policial militar Paulo* voltou a frequentar o NA há cerca de dois meses. Desde 2006, conta que tem relação intensa com o crack. “Não sei dizer se meu comportamento compulsivo tem a ver com a polícia. Mas sei que tem muito policial precisando de ajuda por causa disso e tem vergonha de dizer”. Paulo foi à falência. Abandonou o serviço militar e foi preso duas vezes por isso. Por três vezes ficou internado e agora, além do NA, faz acompanhamento com psiquiatra e psicólogo.
No NA, os membros não são tratados como dependentes químicos já que não há atendimentos médicos para que se faça diagnóstico. “Sabemos que temos problema com drogas e agora estamos em recuperação. Nossa doença é a adicção, que envolve obsessão, egocentrismo e compulsão ”, esclarece Ricardo.
*Nomes Fictícios 
Onde buscar ajuda em Salvador:
Narcóticos anônimos - Reuniões nas igrejas católicas dos bairros Boa Viagem, Alto das Pombas, Stiep, Graça, Imbuí, Nazaré, Água de Meninos, Penha, Rio Vermelho, Vitória, Sussuarana e São Cristóvão /nos centros comunitários do Bonfim, Periperi e Itapuã/na Casa dos Idosos em Amaralina/ no Centro Espírita Centelha Divina (Boca do Rio) / Restaurante Conforto, no Pelourinho // Linhas de ajuda: 8213-1953 / 3484-0999 // Infoline: 3533-3400
Cetad - Rua Pedro Lessa, 123, Canela // www.cetad.ufba.br
CAPs AD - Estrada de Campinas, 61 - atende pacientes até 30 anos // Rua Tomás Gonzaga, 23 - atende a partir de 18 anos
Nar-Anon - Encontros na Igreja de Itapuã (segunda, 19h30), Igreja da Graça (terça, 19h30), Igreja de Santana - Rio Vermelho (quinta, 19h) e Igreja Nossa Senhora da Esperança no Stiep (sextas, 19h30)
Leia reportagem completa na edição impressa do Jornal A Tarde deste domingo, 1º, ou, se você é assinante, acesse aqui a versão digital.

1 Comentários

  1. Sim senhor, e se conseguir levar para essas cidades o NARANON com os 12 passos muita gente vai se recuperar GRATUITAMENTE.http://www.naranon.org.br/

    ResponderExcluir