Helga Cirino
Lúcio Távora/Agência A TARDE
Esta manicure, aos 14 anos, já era mulher do líder de um ponto de tráfico na capital
Esta manicure, aos 14 anos, já era mulher do líder de um ponto de tráfico na capital
>>Veja relação dos Conselhos Tutelares de Salvador
Aos 12 anos, Paula (nome fictício) tinha o sonho de ser independente e viver um conto-de-fadas. Fugiu da casa da avó, no interior baiano, para viver com um homem de 32 anos. Uma relação que a jovem acreditava poder  transformá-la “em princesa” – ter as roupas, sapatos e bolsas que sonhava e o principal: ficar livre das agressões físicas e maus-tratos praticados pelas tias. Quatro anos depois, o conto-de-fadas virou pesadelo.
Após se mudar para Salvador, ela se deu conta de que era a mulher “do dono da boca de fumo”. Passou a ser mantida em cárcere privado, vigiada por um soldado do tráfico. “Queria sair mas não sabia como. Criei coragem quando descobri o paradeiro da minha mãe, que me abandonou quando eu tinha três meses”, lembra.
Só aos 23 anos, após onze anos de relacionamento e com um filho de 3 anos, ela teve o apoio das irmãs e conseguiu fugir. Hoje, aos 26 anos, Paula diz ter pouco contato com o traficante.
Ela tem uma filha, de 1 ano e oito meses, de um novo relacionamento, e aguarda a chegada do terceiro filho. Mesmo com dificuldade, ajuda a manter a família com o salário de manicure: “Muitas mulheres me chamam de doida, porque deixei uma vida que poderia ter o que quisesse. Outras me elogiam. Eu me sinto vitoriosa”.
Histórias como a de Paula são comuns em comunidades de Salvador. Jovens de 12 a 17 anos estão sendo exploradas por traficantes que mantêm duas, três meninas em pontos de venda de entorpecentes viciando-as ou fazendo-as de mulas (pessoas que transportam drogas). Em alguns casos, são trancadas nas moradias ou obrigadas a se prostituir e atrair criminosos rivais para ciladas.
De janeiro a abril deste ano, 14 jovens passaram pelo pronto atendimento da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac) – órgão estadual que atende a adolescentes em conflito com a lei – três por porte de drogas. “Seis das apreensões foram por roubo. Mas, nas entrevistas, percebemos que os delitos, quase sempre, têm como objetivo o tráfico ou uso de drogas”, conta o subgerente Péricles Mendes.
Desde janeiro de 2009, 734 adolescentes do sexo feminino foram conduzidas à Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), mais da metade por envolvimento com drogas. A titular da unidade, Claudenice Mayo, diz não ter dados sobre o envolvimento das meninas com traficantes, mas os relatos são testemunhados, todos os dias, por representantes do Ministério Público (MP-BA) e Justiça.

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